Um exemplo de dificuldades burocráticas que quase impediram o Brasil de desenvolver a primeira linhagem de células tronco nacionais: um líquido especial, que vem do Canadá e precisa ser conservado numa temperatura de menos 73 graus, ficou retido em pleno calor da Alfândega do Rio, obrigando os cientistas a fazerem um revezamento durante dias para levar gelo seco para preservar o produto até conseguir liberar a importação. Sem esse líquido, o “emitízer”, era impossível desenvolver as pesquisas. Neste caso os pesquisadores acabaram encontrando uma solução criativa ao criar uma nova substância sensível, o “mêizer”, que custou um quarto do preço da substância importada. Mas nem sempre é assim neste jogo entre burocracia e ciência: pesquisadores narram casos de aparelhos danificados, amostras congeladas derretidas e dificuldades de contratação de pessoal, entre muitos outros. Por isso eles defendem mudanças na burocracia que atravanca o progresso da ciência.
Participantes: João Ramos Mello Neto, mestre e doutor em física, com pós-doutorados no exterior, é professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Secretário e depois presidentte da regional Rio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, parceira do programa. Carlos Alberto Marques Teixeira, engenheiro com mestrado em economia e gestão empresarial, se especializou em tecnologias de gestão da produção e foi coordenador geral da diretoria regional do Rio de Janeiro e diretor substituto do Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Jerson Lima Silva, formado em medicina, com mestrado e doutorado no Instituto de Biofísica, chefia o Laboratório de Termodinâmica de Proteínas e Vírus da UFRJ, onde também dirige o Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear de Macromoléculas. Foi também diretor científico da Faperj – a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, que atualmente preside. Lucia Carvalho Pinto de Melo, graduada em engenharia química, com mestrados em física e em energia e meio ambiente, acabou especializando-se em planejamento e políticas de ciência. Presidiu, de 2005 a 2011, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), instituição responsável por formular e implantar políticas para o campo científico. É pesquisadora titular da fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco e integra o Grupo de Trabalho da SBPC para mudanças nos marcos legais.